Outubro de 2015, a minha primeira crise de mania, a minha primeira internação. Olá bipolaridade, prazer! Cheguei!
Foi assim que começou, eu estava em uma viagem a trabalho no RJ, trabalhando em 4 projetos distintos, estudando minha árvore genealógica e o Brasil enfrentando a maior crise política que eu já pude vivenciar.
Naquela época, eu não sabia da existência da bipolaridade enquanto transtorno, nem mesmo os meus familiares. No RJ, usei drogas, andei com gente extremamente suspeita, não dormia, no máximo 1hr por noite e tive experiências realmente fora do comum, que talvez em outra oportunidade eu relate.
Foi uma loucura, quando os meus parceiros de viagem perceberam que eu já não estava em um estado normal, começaram a tentar me convencer a voltar para a minha cidade natal e sim, foi muito, mas muito difícil isso acontecer. Graças a Deus entrei no avião e no outro dia estava em uma “clínica de repouso”, fiquei internado entre 2 a 4 dias, não me lembro bem.
Nesta primeira internação conheci outras pessoas que passaram por situação similar ou mais grave que a minha, fiz bons amigos, apesar do pouco tempo e como eu não tinha ainda o diagnóstico, para mim tudo era novidade, com exceção do que realmente estava acontecendo comigo… o que aconteceu ? O que eu tinha ? Afinal, foram 30 anos de vida sem praticamente nenhum surto psicótico, digo isso, pois aos 18 anos, eu fiquei bem fora da casinha por 2 meses, conversava com a TV, tinha mania de perseguição e etc, melhorei sem nenhuma medicação ou tratamento, até hoje não entendo como que naquela época ninguém me levou ao médico e como que tudo voltou ao normal, sem nenhuma medicação.
Após isso, fiquei 1 ano afastado do trabalho, alguns familiares queriam me aposentar, outros não, a verdade é que esse tipo de situação serve realmente para te mostrar quem se importa com você, talvez este foi o maior presente que a bipolaridade me deu, reconhecer e ter gratidão por quem realmente me ama. Estas pessoas nem sempre sabem o que é melhor para mim, mas agem como se soubessem, as vezes estão certas, as vezes não, normal.
Durante este 1 ano, a medicação estava errada, eu tinha crises de pensamentos compulsivos, além de ter a minha vida sexual prejudicada. Foram tempos difíceis, bem difíceis! Eu lia e assistia muitos vídeos sobre transtornos mentais, o DSM e pensava ter transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia e não cogitava tanto a bipolaridade.
O fato é que alguém intelectualmente e profissionalmente ativo como eu era, não ia conseguir ficar por muito tempo parado… e olha, foi tempo! 1 ano se passou e em novembro de 2016 eu rompo um relacionamento amoroso que já estava acabado, me mudo de cidade e consigo um novo emprego em uma antiga empresa na qual eu já tinha trabalhado. Novos ventos! Bons ventos ?! Não necessariamente! Eu entro em hipomania que em 3 meses se torna mania e novamente mais uma crise! Pouco sono, comportamentos de risco e acabo me envolvendo em uma briga, no outro dia meu pai vem me buscar e volto para a minha cidade de origem, passo o natal e o meu aniversário internado, foram mais de 20 dias, a segunda internação!
A segunda internação foi incrível! Eu realmente conheci pessoas incríveis! Que me ajudaram no diagnóstico da bipolaridade e compartilharam suas histórias comigo. Fiz bons amigos e sai dali decidido a cumprir o máximo do tratamento que eu conseguisse, eu queria muito continuar vivendo! Trabalhando, cuidando da minha família.
Nas internações, nem tudo são flores… em uma situação, uma paciente que tinha esquizofrenia tentou me agredir, sendo que um dia antes ela tinha se cortado… às vezes algumas pessoas gritam em surto e no geral, a sensação de estar em cárcere é bem, mas bem desconfortável mesmo! Eu fiquei 2 dias no SUS, onde a falta de cuidado com o ambiente é maior, fora a superlotação, mas no geral, fiquei internado no particular/plano de saúde.
Bom, como eu disse, após a segunda internação, eu estava decidido a seguir o tratamento e tentar ter uma vida “normal”. Passaram 3 meses eu consegui um emprego, para ganhar 4x menos do que eu estava acostumado a ganhar, mas tudo bem! Era um recomeço! Eu estava feliz e motivado com a possibilidade de voltar a trabalhar. Fiquei neste emprego por 1 ano e meio, na metade de 2018 surgiu uma oportunidade melhor e eu agarrei.
Nesta época eu já fazia terapia TCC(skinner) e tomava uma medicação mais ajustada às minhas necessidades, sabia da importância do sono e da rotina, bem como do baixo consumo do café e da necessidade de se evitar álcool. Eu realmente me esforçava para seguir as melhores práticas frente a bipolaridade.
Bom, tudo parecia bem, até que após 2 anos sem uma crise de mania, eu resolvo interromper a medicação sob a prerrogativa de conseguir ser mais intelectualmente produtivo, e veja, ninguém me cobrava isso, só eu mesmo. Como você já deve imaginar, passaram-se alguns poucos meses e veio a hipomania seguido de uma mania… me lembro bem como foi! E foi diferente! Bem diferente!
Na terceira internação, ninguém precisou me levar até a clínica, eu fui sozinho, logo após uma consulta com o meu psicólogo, ao qual sou extremamente grato. Apesar de estar em mania, eu estava consciente da minha situação e da possível necessidade da internação. Nas 2 primeiras, eu fui resistente e cheguei a rolar no jiu jitsu com alguns enfermeiros rsrs, complicado.
Então, em 2019, na terceira internação eu aprendo a não ter recaídas frente ao tratamento. Percebo a importância da medicação, da terapia e dos bons comportamentos. Agora em 2025, se passaram 6 anos sem internação, o que para mim é uma grande vitória! Nesses 6 anos tive 2 episódios de hipomania, mas com a ajuda da família, regulei o meu sono, ajustei a medicação e saí delas! Não entrei mais em mania e não precisei mais internar.
Agora, de bipolar para bipolar, é foda! Eu sei! Você sabe! A ressaca moral após crises de mania é tensa! Mas estou aqui para te dizer, é sim possível ter uma vida feliz e produtiva, mesmo com o diagnóstico do transtorno bipolar. Desde 2021 eu penso em como posso ajudar pessoas que passam pelo o que eu passei(e vou passar o resto da vida), acredito que a maneira mais simples no momento é com este blog e espero do fundo do coração, que os meus relatos lhe sejam úteis! Que te ajude! Uma doença, um transtorno, um rótulo não te define! Defina-se e refina-se! TMJ! :)